Sunday, August 21, 2011

A receita

Esta é a receita que estou seguindo. Não é perfeita, mas funciona. À medida que a for aprimorando, vou atualizando o texto.

Fonte

O melhor e mais completo artigo que encontrei sobre o tema é o Composting Dog Waste, do Depto. de Agricultura dos USA e do Depto. de Conservação do Solo e Água de Fairbanks, Alaska, USA. O documento é muito bom. Recomendo a leitura completa de suas 11 páginas se você sabe inglês. Aqui estão as informações mais importantes deste artigo:

Ingredientes

A compostagem requer a mistura de materiais ricos em nitrogênio (também chamados de materiais verdes ou úmidos) e materiais ricos em carbono (também chamados de marrons ou secos).

Materiais ricos em nitrogênio:
  • fezes de cachorro
  • grama verde
  • lixo vegetal
  • esterco de outros animais
Materiais ricos em carbono:
  • serragem
  • palha seca
  • jornal picado
  • folhas secas
A serragem é um ótimo ingrediente para ser usado. É muito fácil de arranjar. Vá em qualquer serraria e leve um saco de lixo grande, e peça pra levar um pouco. Mais fácil que picar jornal. A granularidade mais fina representa maior área de contato, o que acelera o processo. Pergunte se a madeira não foi tratada quimicamente.

Ferramentas
  • Uma pá ou enxada para mexer a mistura
  • Um recipiente para conter a mistura
A execução
  1. Escolha um local seco e ensolarado para o recipiente. Para cada duas pás de fezes, uma pá de material rico em carbono (ex.: serragem).
  2. Adicione água e misture gradualmente até que esteja úmido mas não encharcado. Deve estar úmido como uma esponja espremida. Após preparar a mistura, não adicione mais ingredientes frescos até que o processo esteja completo, em algumas semanas.
  3. Micróbios (que ocorrem naturalmente) começarão a decompor os materiais.
  4. Proteger a mistura contra chuva é importante se o recipiente não tiver escoamento e acumular água. Não pode ficar submerso nem encharcado.
  5. Semanalmente mexa a mistura de cima para baixo, de dentro pra fora, para que tudo seja mexido. Após algumas repetições, a mistura estará visivelmente pronta, porque terá cheiro e aspecto de terra preta, ou de húmus.
  6. Depois de pronta, deixe a mistura curar por pelo menos um mês para estabilizar o pH e garantir que toda a decomposição está encerrada. Então, está pronta para usar.
Tipos de recipiente

Podem ser de muitos tipos. Caixas de tela metálica fina, de madeira, de plástico, ou até acumulado num canto (mas aí não fica limpo e organizado). De uma forma geral, é necessário um recipiente muito bem ventilado, com furos para aeração, furos que sejam pequenos o suficiente para que a mistura não vaze por eles, que não dificulte o processo de mexer a mistura, e de preferência que tenha proteção da chuva. Na minha primeira experiência, usei uma caixa plástica coberta com telha ondulada, ou seja, com ventilação apenas no topo, mas creio que foi uma escolha ruim, creio que é muito mal-ventilada.


No começo um só recipiente basta. Acumule as fezes em algum lugar ou no próprio recipiente, e quando tiver um volume razoável, misture água e serragem (ou outra fonte de carbono) e misture. Veja que depois que começou a compostagem, não pode mais adicionar fezes até que o ciclo esteja terminado.


Riscos à saúde

Fazer compostagem das fezes do seu próprio animal ou animais no quintal ou área de serviço da sua casa não traz nenhum risco adicional à saúde das pessoas da casa. Mesmo assim, é bom rever os riscos inerentes ao trato de cães e fezes de cães.

Toda pilha de restos orgânicos possui umidade e esporos de fungos que podem causar reações alérgicas em indivíduos sensíveis.

Cães naturalmente podem representar um risco à saúde do homem, seja mantendo um cão em casa ou manipulando fezes com uma pá. A melhor forma de prevenção de doenças é compostar fezes de cães saudáveis. Aplique vermífugo ao seu cão de acordo com a recomendação do seu veterinário.

Existem muitos parasitas do cão que poderiam, em casos especiais, serem transmitidos ao homem. Em especial cita-se parasitas Nematódeos e Echinococcus. Estes parasitas do cão tem o homem como hospedeiro intermediário. A contaminação dos cães pode acontecer através do contato deles com fezes de cães infectados ou da ingestão de carne crua com ovos do parasita. Cães contaminados depositam os ovos no chão através das fezes. A contaminação de homens se dá através da ingestão dos ovos, que pode acontecer em caso de higiene insuficiente após manusear o composto, ou de usar o composto produzido com  fezes contaminadas em hortas para consumo humano. Crianças estão em maior risco pelo fato de frequentemente levarem suas mãos à boca. A ingestão destes ovos pelo homem pode representar um risco de vida. Não faça compostagem de fezes de animais desconhecidos nem de animais com sinais de doenças. Descarte tais fezes através de outros métodos. Não use composto de fezes de cachorro em horas para consumo humano.

Minimize os riscos à saúde através de:
  • Use luvas e lave bem as mãos após trabalhar com cães ou com suas fezes
  • Confine a compostagem a um local definido
  • Garanta que crianças não brincarão com o composteiro, usando métodos apropriados considerando a idade das crianças
  • Não inclua fezes de animais estranhos
  • Restrinja o acesso de cadelas amamentando, prenhas, ou filhotes ao composteiro
  • Use roupas e ferramentas separadas de roupas e ferramentas para outros propósitos (compre uma pá só pra isso e seu jeans e camiseta mais velhos)
  • Não alimente seus cães com carne crua
  • Não permita que crianças brinquem em terras onde composto terminado foi aplicado recentemente
  • Vermifugue seus animais com a regularidade adequada
  • Não aplique o composto em hortas destinadas a consumo humano
  • Não posicione o composteiro onde água da chuva pode passar pelo composteiro e descer até hortas
Essa lista de riscos à saúde pode parecer meio assustadora, mas veja que fazendo compostagem numa caixa, no canto do quintal, usando uma pá, você não está exposto a nenhum risco adicional em relação aos riscos que está exposto se usa uma pá para coletar as fezes e ensacar ou descartar imediatamente. Mesmo assim, é bom entender do que estamos tratando.

O composto produzido é muito fértil e uma ótima adição às suas plantas, em vasos ou no chão. Melhora a estrutura do solo, promove a aeração, a retenção de água, e é fonte de nutrientes. Pode ser usado como cobertura de solo, controlando o brotamento de mato. Ao produzir terra para semear ou botar em vasos, uma mistura de 25% composto e 75% terra é recomendada. O composto tem alta salinidade e por isso não é recomendado para germinação de sementes.

Sunday, August 14, 2011

Tentativa 1 e 2

Na minha primeira experiência, comprei um pote de lixo grande com tampa, de plástico, para acumular as fezes. Coloquei no quintal e mantive fechado para o cheiro não espalhar e para não molhar na chuva. 

Comprei também uma caixa de plástico, que foi a coisa mais apropriada e mais barata que pude encontrar. Foi caro. Mas na época, não tive nenhuma idéia melhor. Pus a caixa de plástico no quintal e cobri com um pedaço de telha ondulada. A ventilação seria só pelas ondulações da telha. Não podia furar a caixa, pois ela racharia.


Peguei um saco de serragem na serraria mais próxima.


Fiz a mistura conforme as dicas já publicadas. Mexi até estar tudo misturado. O material vira uma pasta, e fica pesado, difícil de mexer. 

No ato em que você rega e mistura o material, a mistura é fedida. Fede assim como fediam as fezes que você guardou para isso. O cheiro pode ser sentido até a uns 5 metros de distância. Mas em 24 ou no máximo 48 horas, já não fede mais, a não ser que se tire a telha e cheire diretamente em cima da caixa, com o nariz a 50 cm da mistura. Em menos de uma semana, o cheiro de fezes se mistura a um cheiro de terra que começa a surgir.

Vou ser sincero com vocês. Qualquer pessoa que não seja muito enjoada pode fazer isso. Se você consegue recolher fezes com pá, consegue mexer elas com uma pá também. A única parte difícil, porém, é na hora de fazer a mistura. Se você acumulou as fezes num recipiente, elas ficam mais malcheirosas do que quando eram recém-produzidas. É nessa hora que o cheiro é meio brabo. Mas é só por uns minutos. No dia seguinte, o cheiro já melhorou.

Ingredientes recém-regados e misturados

Mexi semanalmente a mistura. É bem interessante notar como a mistura evolui. De uma pasta fedida, pesada e repugnante, ela gradualmente vai se tornando algo que não tem diferença quase nenhuma de terra ou de húmus ensacado de floricultura. O fedor dá lugar a um cheiro agradável de terra. Isso mesmo, terra pura e fértil. Não a terra seca e dura de uma estrada de terra, mas como terra preta e fofa colhida de uma mata virgem. Cheiro de húmus.

A receita certa é 2 partes de fezes para 1 parte de serragem. Mas por desatenção, errei na proporção e fiz o inverso: 1 para 2. O resultado é que a mistura final ficou com vários pedaços visíveis de serragem.

A mistura é pesada nas primeiras semanas. Imagine papel higiênico amolecido na água. Acaba virando pasta. Estava difícil de mexer com pá, então passei a usar uma enxada. Mas a enxada às vezes acertava a caixa, rachando-a. Foi um aprendizado: A caixa deve ser resistente, pois você usará uma enxada, e não uma pá.

Não dá trabalho nenhum... Só mexer semanalmente, para aerar. Se esquecer uma semana, não tem problema nenhum. O composto e as bactérias não vão a lugar nenhum.

Abaixo veja a foto do material quando concluí que estava finalizado, 2 meses depois. Concluí assim porque tinha consistência de terra pura, e cheiro de terra pura. O fedor da pasta inicial tinha desaparecido por completo, e se eu não soubesse, jamais diria que pouco tempo atrás, este monte de terra bem-cheirosa era uma pasta repulsiva de excremento. Até poderia meter a mão nela. Mas não obrigado, prefiro continuar usando a pá, só por via das dúvidas. Ainda falta a última parte: O repouso, que deve ser de no mínimo 1 mês.


Veja este vídeo do material pronto. Veja como parece uma terra simples e inofensiva. Não tenho vídeo de quando fiz a mistura, mas digo que era bem diferente. Era uma pasta pesada e fétida.

O resultado não ficou bonito, preto, fofo e úmido como é húmus ensacado de floricultura. Ficou com excesso de serragem, com algumas bolotas secas e duras de serragem (que acho que são bolotas de serragem molhada que secou e endureceu), e um pouco seco. Com a prática, aprimorarei a receita. 




Depois de curada a mistura, a joguei no pé de algumas plantas do meu quintal, fazendo uma camada grossa, para cobrir o solo. Os trevos e matos que cresciam ali praticamente não cresceram mais. Além de adubar, este é um dos usos do composto: Cobertura de solo, para controlar mato.

Algumas fontes que li mandam registrar a temperatura. Pus um termômetro e anotei a temperatura diariamente, mas a diferença da temperatura da mistura com a do ar era quase nenhuma. No máximo uns 5 graus. Nem dá pra dizer que a mistura esquenta mesmo. Pode ser só erro de cálculo. Eventualmente o termômetro chinês comprado na internet quebrou, e assim larguei de me preocupar com a temperatura.

Não achei que fosse levar 2 meses. Talvez este recipiente não seja ventilado o suficiente. Vou tentar corrigir isto também. Não foi boa idéia mesmo usar plástico. Mas na hora não achei nada melhor.

Preço da brincadeira:
Potão de lixo com tampa para acumular as fezes - R$ 30
Caixa de plástico organizadora para fazer a compostagem - R$ 50 (caro demais, eu sei)
Enxada, pá - já tinha
serragem - de graça
pedaço de telha ondulada - catei num resto de obra. Mas é bem barata também.

A experiência deu frutos. Não foram perfeitos, mas gerou aprendizado:
1) Usar uma caixa mais forte, que aguente pancada de enxada.
2) Prestar atenção na proporção correta dos ingredientes.
3) Usar um recipiente mais ventilado.

Esse aprendizado é essencial para melhorar a próxima "fornada".

Tentativa 2

Na segunda vez, reaproveitei o recipiente e a serragem que tinha, e peguei mais fezes da minha fonte inesgotável: os meus cachorros. Desta vez acertei na receita: proporção de 2 partes de fezes para 1 de serragem.

Houve um problema: O recipiente onde acumulo as fezes abriu, talvez com o vento, e choveu dentro. Quando comprei, não fiz furos no fundo porque não tinha ferramentas próprias (facas e serras fazem o plástico rachar). Então a água acumulou por uns dias no pote até que o esvaziei. Não houveram problemas sérios além do fato que a mistura ficou bem mais malcheirosa e foi bem mais desagradável misturá-la. Mas é como eu disse: O fedor mesmo só existe quando se está misturando os ingredientes.

Já sabia que era preciso um novo recipiente, mas ainda não tinha tido tempo de arranjar outro, então usei de novo a caixa de plástico. Já estava meio quebrada no fundo, agora ficou ainda mais.

O resultado final ficou um pouco mais homogêneo, mas ainda parecia haver excesso de serragem. Acho que a proporção de 2 para 1 dos ingredientes pode precisar ser refinada. Da mesma forma que a tentativa anterior, esta não ficou preta, úmida e fofinha como húmus ensacado. Ficou meio ressecada e cinza, mas isso é uma questão simples de rega. Quase nunca reguei a mistura quando a mexi. Mas ficou melhor do que da última vez.

A foto abaixo mostra o aspecto da mistura resultante. Tem partes meio cinza-claro e outras mais escuras, é que em cima estava mais seco, e no meio mais úmido, e quando eu bati a foto já havia misturado tudo. Nasceu até um trevo no composto (já viu trevo nascer numa pilha de fezes)?

Assim como na tentativa anterior, esta pilha de material simples e com cheiro de terra naturalmente ficou assim, inassociável com o material original, que era uma pilha nojenta de cocô molhado misturado com serragem.

Esta segunda mistura pus num pote para repousar e está lá até então. Não estou precisando dela ainda.

Mistura pronta.

Mistura pronta. Um pedaço de plástico da caixa aparece. Um trevo nasceu.

Lições aprendidas:
1) Não deixar entrar água no recipiente onde acumulam-se as fezes. Senão, federão mais.
2) Prestar mais atenção no nível de umidade e regar se for preciso pode ser importante.